quinta-feira, 7 de maio de 2009

Vocês conhecem Ednaldo Pereira?


Conheci esta sensação da MPB no ano de 2008, através de amigos. De início, não havia percebido a genialidade de suas letras irreverentes e, ao mesmo tempo, politizadas. Porém, aos poucos refleti sobre o conteúdo lírico que ele expressa de maneira inovadora e moderna. Suas músicas falam de tudo um pouco: solidariedade, amor, relacionamentos, religião e política, numa mistura que até então poderia ser classificada apenas como excêntrica, mas que, feita por ele torna-se muito mais do que excentricidade, assumindo um caráter autêntico e, no mínimo, interessante.

Tanta coerência se dá ao fato de Ednaldo ser uma criatura múltipla. Ele compõe, canta, dança e ainda atua em seus vídeos. Esse pluriartista é um ser como todos os outros, exceto por um dado: ao passo que sofre, é inspirado e transforma suas inquietações de homem moderno nesse mundo regido pela inteligência artificial em poesia e lirismo. A seguir, analiso as letras de seu primeiro álbum, Mesclado.


What is the brother? é a faixa que abre o cd. Apesar do título ser em inglês (explicarei mais adiante o porquê disso), a letra é em português e Ednaldo, aqui, fala de sua primeira inquietação como homem moderno: o sistema. O trecho “Vamos mudar/ Esse sistema/ De vida que de fato está/ Não podemos assim continuar” evidencia esse tom confessional e, ao mesmo tempo, indignado com o mundo em que vivemos. Ele deseja mudança e por isso propõe a igualdade, o respeito às gerações novas e antigas, a caridade e a bondade. O What is the brother? do título é o questionamento que ele faz ao ouvinte e, logo depois, soluciona o problema ao propor as mudanças.


A próxima faixa chama-se Mesclado. A faixa-título do álbum é, ao mesmo tempo, um diálogo com o ouvinte, um desabafo do eu - lírico ednaldiano e uma descrição do próprio cd Mesclado. Ele dialoga conosco quando afirma “Mesclei seu coração com toda a razão”. O desabafo ocorre na seguinte estrofe: “Mesclado, Mesclado/ Como é bom e confortável/ Mesclar e se sentir e uma ascensão agradável/ De uma expressão cheia de emoção”. E a descrição do cd é a primeira informação que temos: “Mesclei um Método De metodizar/ Falei de diversos assuntos relativos/ Sobre mais de uma questão/ Que diz a respeito da situação”.


A terceira faixa, batizada de Hora, lembra-nos da dádiva do tempo e de como não o aproveitamos devidamente. O tempo é sagrado e deve ser bem utilizado, de forma digna e assim, ele se sente honrado por fazer bom uso de seu tempo. E que ao usar suas horas de maneira benéfica, ele atinge a perfeição.


Doce, doce amor não precisa de explicações. É a típica música romântica, uma declaração sincera à sua amada com um pedido simples: prová-la de que seu amor é verdadeiro e de que ela é a única inspiração para seus delírios de amor.


Homem Oferecido, a quinta faixa do álbum, trata da dificuldade do relacionamento entre homens e mulheres. A mulher, mantém-se na defensiva e não demonstra o interesse pela investida masculina, porém, quando o homem prova que seu empenho é real, a mulher, enfim, cede.


A sexta faixa, Mulher Contrariada, é uma continuação do assunto da faixa anterior, cujo diferencial encontra-se na mudança de ótica. Lá, o homem era o sujeito da ação e, aqui, a mulher incorpora tal papel. Aqui, mulheres e homens continuam a não se entender, porém, o relacionamento entre eles já existe. O homem é ciente de que eles não se compreendem, porém, aceita o desafio e assim, formam um “casal fora do normal”. É a insistência no relacionamento, mais uma vez, nos mostra Ednaldo, que vale a pena. Viver com uma mulher contrariada “dá em nada”, porém nem todas são assim e o amor deve prevalecer.


Em seguida, Ednaldo nos presenteia com Jaz, uma música com tom fúnebre, mas que no entanto fala sobre vida e esperança e, por que não, renascimento também. É o nosso grande Ednaldo tratando da dubiedade da vivência humana de maneira espetacular e metafórica.


Em Ninguém, oitava música do cd, Ednaldo fala da dificuldade de compreendermos o próximo. É a diferença na semelhança e a semelhança na diferença, o pressuposto que rege toda a humanidade. Além disso, a desesperança que o amor nos oferece: ele quer a amada junto a ele, porém, ela não está e, indignado, ele se pergunta “Por quê?”. É o tom filosófico do amor que conduz esta bela canção.


Na seqüência, a balada Homens que entram no vagão entra em ação. Nela, é impossível não perceber a metáfora política e social presente. O verso “homens que entraram no vagão e não querem mais sair deste trem” remete aos políticos detentores do poder e que se perpetuam através da continuidade de seus filhos e netos. Já no verso “se este barco não virar, nós estamos na mesma situação” diz respeito ao sistema que nos comanda e manobra, fazendo com que não enxerguemos seu poder alienante, deixando-nos sempre “alegres”.


A décima faixa, intitulada Chance, nos mostra as principais inquietações do homem: a vida profissional, sentimental e religiosa. Em todas elas ansiamos pela conquista plena e, assim, esperamos pela chance de realizá-las, assim como o próprio Ednaldo afirma na primeira estrofe: “sem perder, vou tentar/ realizar e assim conquistar”. Sentimentalmente, o homem só se completa quando tem a oportunidade de declarar que só precisa do carinho da amada e que ela, ao escutar a declaração, o aceite. Percebemos também que Ednaldo tem uma conexão muito forte com Deus: “Chance, tenho de invocar/ E falar com o Deus de Israel/ Que fez a terra e os céus/ Através de uma oração/ Que vem do meu coração”. É uma música essencialmente esperançosa.


A décima primeira faixa recebe o nome de Indiferença. Nela, Ednaldo apela para um lirismo erótico, porém com classe. As estrofes “Faz em mim, o que queres de bom que eu faça em ti/ A interrupção prejudica a nossa relação” e “Sei que sinto muito prazer em seu corpo não sei porque/ Eu dizendo que te amo, você dizendo que me ama/ E assim garota só nos dois em uma cama” mostram claramente esse lado. O outro lado da música é, como o título indica, a indiferença da moça, apesar de tamanha cumplicidade que há entre os dois. É Ednaldo mais uma vez nos mostrando a ambigüidade da vida e dos relacionamentos.


E, dessa forma, chegamos ao fim de nossa viagem Ednaldiana. Espero que vocês tenham apreciado e que os preconceitos acerca dessa nova música de vanguarda caiam por terra. Deixe-se emocionar e viajar nesse mundo de filosofia, amor e metáforas sociais.

Para quem não o conhece ainda, assista ao vídeo mais famoso de sua vasta videografia: http://www.youtube.com/watch?v=r6Zv6QPFG2s

E, para mais informações, acesse o blog: http://chancenaweb.blogspot.com/ e saiba mais da vida deste maravilhoso músico.


(Brincadeira com Ednaldo, gente, espero que vocês tenham gostado! Críticas e sugestões são super bem vindas!)

3 comentários:

  1. Eu adoroeeeeei muito, tive o prazer de conhecer Ednaldo Pereira e concordo plenamente com o que você diz, apesar de não ter conseguido fazer essa leitura semiótica tão complexa, rsrsrs.

    Parabéns, e viva o Ednaldo...

    ResponderExcluir
  2. *Conhecer as músicas do Ednaldo Pereira melhor dizendo, rsrsrr.

    ResponderExcluir
  3. Desde a primeira vez que ouvi, me apaixonei...

    Ele é um gênio.

    Mulher contrariada é o melhor clipe, usufruam. :)

    ResponderExcluir

Super comentem, galëre!