quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Primeiro post-aventureiro do ano


Era um dia de estágio como outro qualquer. Às 18h, pontualmente, eu encerrei o expediente e, ao sair de lá, me dirigi à parada de ônibus. Só que, desta vez, resolvi pegar um outro ônibus, cuja rota, haviam me dito, incluía o Centro Administrativo, que é muito mais próximo da minha casa do que a Primeira Igreja Batista (além de infinitamente menos perigoso).

Certa de que, muito antes das 19h eu já estaria em casa, assim que o ônibus parou, subi. Triunfante, fiquei logo ali na frente, pra logo pedir parada e descer. Só que o ônibus não chegava no CM e, a cada passada de marcha, meu coração acelerava mais ainda.


“Tudo bem, já já chego lá”, pensei eu, iludida. Só que, ao invés de ir para Jaguaribe, o ônibus pegou a avenida principal de Cruz das Armas. “Certo, ele vai dar a volta daqui a pouco”, tentei me acalmar novamente. Quando vi que o ônibus não foi em direção às três lagoas (parte da cidade que me dá nos nervos), tranqüilizei.


Porém, o ônibus não voltava! E eu fui ficando a cada parada mais nervosa. E os bairros? Bem, basta dizer que eu não conseguia identificá-los de primeira. Foi preciso olhar atentamente as ruas em busca de algo que me informasse de onde se tratava. Assim, graças a Lan houses, lanchonetes, mercadinhos e oficinas, descobri que conheci os bairros antes visto apenas em programas policiais, como Jardim Veneza, Bairro das Indústrias e o Loteamento Cidade Verde (Sim, loteamento!).


Agora, dá pra imaginar a minha angústia? Num momento, eu estava super feliz ao pensar que logo estaria no aconchego da minha humilde residência, comendo a comida gostosa e quentinha da minha mamãe e brigando com a minha irmã, mas o destino (ok, minha falta de atenção) me disseram “not today, honey”. Nunca imaginei que iria sentir tanta falta das brigas com a minha irmã!


Depois de intermináveis 45 minutos no ônibus (aproximadamente), chegamos à parada final. Lá, criei coragem e perguntei ao cobrador se o ônibus ainda iria ao Centro da cidade. Segue o breve diálogo:


- Qual lugar do centro a senhora quer ir?
- Ah, moço, eu queria ir pro Centro Administrativo, mas a gente não passou lá – disse eu, com a maior cara de entendida das paradas de ônibus da cidade.
- Passamos sim, senhora! (acho que nessa hora ele quis rir da minha cara, mas se conteve)
- Mas, como, se eu não vi? (aqui eu vi, definitivamente, um risinho)
- É que passamos na rua de trás, nas trincheiras.
(Tive vontade de morrer quando ele disse isso, mas superei e soltei um...)
– Ah, por isso não reconheci!


Sim, senhoras e senhores. Isso foi tudo o que consegui dizer. Matem-me, pois mereço a morte depois disso. E tem mais:


- Olha, mas a gente passa na Vasco da Gama – ele ainda disse. Eu, com as esperanças renovadas, já que moro muito mais próximo ainda à Vaso da Gama, quase sorri.
- Ah, então ta certo, moço, obrigada – ainda fui educada – Mas, o senhor sabe me dizer se vai demorar muito ainda? - Não, vai não, senhora.

“Ufa!”, eu pensei. “Daqui a meia hora, se Deus quiser, estarei em casa!”. E, assim foi. Acredito que em menos de meia hora, na verdade, eu já estava em casa contando essa mesma história à minha mamãe e minha irmã, que, obviamente, ficaram num misto de alívio (por nada de mais ter me acontecido), raiva (pela minha burrice) e riso (porque é melhor do que chorar, eles dizem).


Nessa minha aventura rumo ao gueto de João Pessoa, acabei descobrindo muitas coisas interessantes. Aqui listarei algumas:


1. Quanto mais pobreza num lugar, mais igrejas se instalam ali e prometem mundos e fundos;

2. Jaguaribe não é gueto nem aqui e nem na China;

3. Não importa qual bairro seja, mas ele tem mais ônibus do que Jaguaribe. Fato!;

4. Sabe aqueles indivíduos que, quando passam ao seu lado na rua, você tem vontade de mudar de calçada pra não ser assaltada? É só o que você encontra nesses lugares;
5. Deus existe;
6. Eu prefiro minha mãe reclamando da mesma coisa mil vezes a voltar pra qualquer um desses bairros novamente;

7. Quem quer ser esperto, acaba se lascando (acho que tem um ditado pra isso, mas não sei qual é);
8. Só acontecendo uma dessas pra eu escrever no meu blog amado (e levemente esquecido hehe).